terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Da Miss Libido

Quando é que um Dominador/Domme se torna Top e uma submissa/o bottom?
Em que momento na vida se dá esse click?
Quando é que o próprio sabe que nada voltará a ser como era?
Que não há retorno?
Que é para sempre?
É uma maldição ou uma benção?
Será uma responsabilidade ou apenas um jogo para passar tempo?
Quem leva a sério o que sente, ou há quem não sinta e se limite a representar?
Quem precisa de fazer de conta?
Quem sabe o que anda a fazer?
Porque são precisos os rótulos?
Quem se diz Mestre, Tutor, Dom ou Dono - submisso, escravo ou slut ou puta, distinguindo os estádios, e porquê a distinção?
Porquê uma cultura de BDSM?
Porquê a necessidade de "alfabetizar" as práticas?
Alguém saberá o que anda a fazer...?



...Um dia comecei a usar uma pulseira de guizos, metálica, discreta, no tornozelo esquerdo.
Comprei-a no Algarve, de mim para mim.
Não tinha Dono, mas tinha sessões pontuais de SM com um Dom, sem interacção sexual; segundo ele, a escrava dele nao era muito SM e ele sim, e ele precisava de alguém mais hard, e tivemos quase um ano de sessões supostamente com conhecimento dela (o que nao era verdade). End of story.
Foi com ele que aprendi a precisar de mais SM e a crescer no SM. O meu lado D/s já estava anteriormente explorado e nao seria com ele que cresceria.
Sem me aperceber, e só anos depois entendi, tinha com ele uma relaçao de dependencia bem maior do que julgava na altura, mas nao interessa neste texto. Para ele era só um meio para um fim, sem grande valor, como se provou no fim desse periodo, de forma ingrata.
Um dia, um amigo perguntou-me porque razão usava aquela pulseira no tornozelo, porque nunca a tirava, excepto no Inverno, para usar botas, pois os guizos magoavam no cano, contra a pele...
Lembro-me de dizer "Comprei-a de mim para mim, no dia em que percebi que era escrava."
Ele sorriu. Ponto.


Acho que há toda uma mecânica individual e única de pessoa para pessoa, em tudo na vida e ainda bem que assim é.
Nunca perguntei a um Dominador em que dia se percebeu Dom, mas sempre quando descobriu o BDSM - o que não é a mesma coisa... Mas a submissos sim. Talvez por os entender e estar à vontade para ler o processo que conduz alguém a precisar de se submeter.
E é fácil saber quamdo uma entrega acaba - seja de que lado for, porque mais que racionalizar - sente-se, nao pelo que está a mais, mas pelo que falta.
Nunca tive medo.
No dia em que tivesse, tiver, medo - saio de cena!
Nada em BDSM tem de ter a ver com ter medo; com hierarquia e respeito em contexto à pessoa e ao titular da entrega, sempre; medo nunca!
Mas insegurança muita.
A mesma que os Doms têm muitas vezes e jamais confessarão.
As pessoas não são estanques, são frágeis e tremem, se assim não for, são diabólicas e de evitar.
Doms super-heróis... não acredito neles, são band-aids em feridas mal saradas...
Mas é no dia em que acaba a entrega que se fica mais pobre e nada volta a ser como antes.
Dantes acreditava que era recíproco.
Hoje sei que não é, pois Homens e Mulheres não são e não sentem igual - apenas isso.
Abençoadas excepções...


Maldição ou benção?
Já fui muito feliz e muito infeliz na procura do que me complementa e de quem me complementa.
Mas, de novo, acho que é assim em tudo na vida.
Mas porque há riscos graves e sérios - jogos que podem por a vida em risco - a confiança é multiplicada e a entrega redobrada em muitos casos, logo, as apostas muito altas e, se há quem finja entregas "basta juntar água" - há quem se dê por inteiro por dentro e não para teatrices baratas de filmes no You Tube, e quando perde, perde tudo!
E por mais que se pergunte "porquê?" sabe sempre a resposta e vai voltar a fazer o mesmo - "porque eu SOU assim!", não porque só sei fazer assim, mas porque SOU assim...


Identifico-me com algumas, poucas, submissas e submissos do meio que sentem o mesmo.
O peso, o fado, de nao conseguirem ser de outro modo - mais avisados, menos entregues antes de medir terreno, etc., mas regra geral - ninguem dá muito porque não espera muito.
Dou tudo, porque espero tudo; quero descobrir-me toda e que me descubram toda, e só se faz dando tudo, numa descoberta a dois.
Não me parece que o BDSM fizesse sentido de outro modo - o tal BDSM, aquele de arrepiar a coluna vertebral, sem show-off, sem montagem de filmes pagos.
Felizmente há BDSM para todos os gostos e gente feliz a fazer BDSM.
E quem saiba responder a tudo.
Eu não sei.
Sei que às vezes sentir além dos limites é uma maldição.
Sei que, vezes demais, os submissos em BDSM, no fim ficam com "uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma" a tentar colar os pedacinhos da última entrega que lhes foi atirada à cara, rasgada, como um cromo repetido...
Talvez os Doms também passem por isso, mas eles não fazem blogs a dizerem-se humanos... àparte as raras excepções.



Afinal parece que há medo.
Sei que Dor há.
E não é à flor da pele!

http://misslibidonopaisdasmaravilhas.blogspot.com/

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Sociais embora solitários, meigos e não piegas e, agressivos quando ameaçados. É este equilibrio que me fascina nos felídeos. Zoológicamente são a minha identificação. Considero os afectos humanos muito intrinsecados com a escolha do animal preferido...

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