Que as pessoas mudem, que as pessoas errem, que as pessoas tenham dias negativos, quase todos nós conseguimos entender. Que as pessoas ignorem, que as pessoas não assumam os erros, que as pessoas magoem e não respeitem, quase todos nós não entendemos. Se alguém nos deixar de falar, eventualmente, podemos saber porquê, mas ficamos sempre interrogados da razão se não nos for dita.
Numa sociedade organizada as regras e respeito por elas devem ser acatadas. Caso contrário corre-se o risco de não estar a caminhar para o bem comum e por isso, o individual também. Nesse caso, deixa de fazer sentido que alguém se assuma como entidade integrante de um determinado meio.
Um juramento, contrato, assunção no sentido lato da sociedade é uma postura de responsabilidade, em sociedades mais fechadas é e deve ser "sagrado". Mas, porque somos humanos e alvo de mutações posturais e emocionais, podemos não nos identificar com alguma responsabilidade assumida, mas não podemos pura e simplesmente não deixar de ser responsáveis por essa mudança, até porque por não sermos uma ilha, temos responsabilidades acrescidas de sentimentos e emoções de terceiros.
Em BDSM é mesma coisa aliás, a cumplicidade entre as pessoas é muito mais íntima e envolvente. Ainda mais quando se trata da assunção entre Dons e submissos, patilham-se gostos próximos, segredos, alegrias e frustrações muitas vezes inconfessáveis fora do juramento D/s.
Quando uma das partes pretende mudar a sua situação tratando-se de Dom ou submisso - retirada da coleira - merece a mudança de um ritual de retirada. É tão ou mais ultrajante e ofensivo um simples abandono sem explicação. É como o abandono de um navio em primeira mão, por parte do comandante, em caso de naufrágio.
Soube, recentemente, de um caso aparente de abandono de uma submissa por parte de um Dom, com agravante de esse Dom ser solicitado pela submissa da retirada de coleira mas ignorada para o ato. Se o BDSM ainda não é aceite como filosofia e disciplina de uma postura sexual sui generis, não são exemplos destes que lhe dão dignidade de afirmação.
Queria crer que se tratasse de um mal entendido, mas a julgar pela ausência de contraposição, receio que se seja o descrito.
É tão triste ver tanta gente reclamando do nosso meio, dizendo que não tem mais liturgia, ética, respeito e verdade.
O que, infelizmente, têm razão de ser as ditas reclamações pois, há uma grande ignorância da constituição dessa ética, e a grande maioria que sabe reserva-se a uma postura arrogante de não dar a conhecer ou ainda, não saber mesmo. Há uma confusão generalizada de que um BDSMer é aquele que se sente Dom ou sub quando na verdade, a maioria nem conhece os seus princípios. Logo, o respeito e verdade ficam prejudicados porque, não há sensibilidade / conhecimento teórico da filosofia.
É lamentável o que a internet e as facilidades do mundo moderno tem feito com o nosso meio BDSM.
Reforçando uma vez mais a constituição da ética BDSM, muitas vezes o mal é de quem quer dar a conhecer uma determinada filosofia mas nem a conhece. De que vale ter um chicote, se se não souber um mínimo de anatomia!? De que vale querer ser infligido com um chicote, se se não estiver preparado para ser infligido e confundir com agressão!?
Sabe o que eu acho?? Eu acho que as pessoas, os BDSMistas, são extremamente ciumentos. Sim!! Sentem ciumes do BDSM, dos novatos que estão ganhando espaço, ciumes da forma como o outro vive, ciume do que o outro fala, do que o outro faz, de como pensa. Ou seria medo?? Ou seria vaidade?? disputa talvez??
O meio BDSM, socialmente, não é diferente de outro meio qualquer. Os ciúmes existem, muitos de fato, mas não na postura BDSM e sim num ambiente clientelista. Estou plenamente de acordo que os novatos (novos no meio) criam muitos medos nos ditos gurus porque, em geral, aqueles entram no meio como um cérebro de criança assimilador de informação e com a vantagem de não estarem fundamentalizados em BDSM. Os gurus aceitam-nos enquanto pupilos, mas assim que começam a questionar e ou a formar atitudes de personalidade própria, em geral, são rejeitados e, na melhor das hipóteses, criticados e quase nunca elucidados / questionados. Tudo isto compromete a vaidade de quem se julga detentor da razão e vê no novato um competidor.
Reclamar, muitos reclamam, com razão claro, mas qual seria o real, o verdadeiro, o mais profundo sentimento atrás dessas reclamações todas??
Quando o estado de alguém chega à reclamação, só vejo uma razão: Respeito, ou mais exactamente falta dele. Alguém de bom senso aceita um diálogo seja ele qual for dentro das normas da cordialidade e diplomacia. Prepotências, diálogos de surdos e améns de "Maria vai com as outras" são muito comuns de quem quer cair em graça sem se importar quer com a razão, quer com a emoção deitando a perder o que de bom pode haver num ambiente BDSM, prazer.
Porque é o sentido que mais prezo, dedico a todas as mulheres que me visitam este belo poema cantado, neste dia; dia dos namorados em Portugal. Para todas sem exceção, as que têm namorado - maridos incluídos, claro -, e para as que não têm. Para estas últimas, aqui fica uma força para que o cheiro desse, imaginário, namorado se torne realidade se for o vosso desejo. Beijos (a)(o)dorantes.
Sociais embora solitários, meigos e não piegas e, agressivos quando ameaçados. É este equilibrio que me fascina nos felídeos. Zoológicamente são a minha identificação. Considero os afectos humanos muito intrinsecados com a escolha do animal preferido...